Misleine Andrade F Peel
João de Deus Leite
Mariana Coelho Lima
25/09/2025
Segundo o IBGE cidades, o município de Babaçulândia, localizado às margens do rio Tocantins, teve sua origem registrada em junho de 1926, quando Henrique Brito estabeleceu um modesto estabelecimento comercial na região. O vilarejo emergiu sob a influência do babaçu, uma palmeira nativa, dando início ao processo de povoamento inicialmente denominado “Nova Aurora do Coco”, refletindo a importância da riqueza proveniente do Babaçual no extremo norte. No Mapa 1 está a localização geográfica do munícipio.
Mapa 1 – Localização geográfica do munícipio de Babaçulância.

Percebemos uma desaceleração geral no crescimento populacional desse município, com taxas mais baixas em comparação ao período anterior (Censo 2010 e Censo 2022) e destacamos que houve uma redução populacional de 24,6%, o que indica um fenômeno preocupante de declínio demográfico. Apresentamos, a seguir, o Gráfico 1 que compara o crescimento populacional de Babaçulândia, com o Estado do Tocantins, com a Região Norte e com o Brasil:
Gráfico 1 – Comparação de crescimento entre Babaçulândia, Tocantins, Região Norte e Brasil
Fonte: os autores (2024).
Com um crescimento populacional de aproximadamente 1% entre 2000 e 2010 e um declínio de 24,6% entre 2010 e 2022, o crescimento negativo pode ser atribuído à emigração, sendo influenciado diretamente pela construção da Usina Hidrelétrica de Estreito-Maranhão, que impactaram a dinâmica demográfica da região. Apresentamos o Gráfico 2 que mostra os dados de nascimentos e de óbitos nos últimos 12 anos em Babaçulândia, segundo os dados do IBGE (2022) e do DATASUS (2022):
Gráfico 2 – Nascimentos e óbitos no município de Babaçulândia – TO

Fonte: adaptado pelos autores com dados do IBGE (2022) e DATASUS (2022).
No artigo de Amorin e Jesus (2006), apresenta-se que a construção da Usina Hidrelétrica de Estreito (UHE – Estreito) foi planejada para uma capacidade de 1.109,7 MW; ela resultou em um reservatório com uma área de superfície de 590 km², 434 km² de terras inundadas e um volume de água de 5.400X10^6 m³, afetando diretamente 11 municípios com cerca de 200.000 habitantes. Com a construção da usina, a vila e as atividades econômicas locais foram encerradas, levando ao reassentamento das famílias e às mudanças nas condições de vida da comunidade. Os grupos sociais, como indígenas, vazanteiros, barqueiros, roceiros, quebradeiras de coco babaçu e pescadores, foram afetados pela construção da usina. Em 2010, o Consórcio Estreito Energia (CESTE) desapropriou 75 famílias da Ilha de São José em Babaçulândia, resultando em quatro reassentamentos.
No entanto, esses reassentamentos enfrentaram problemas como falta de transporte, escassez de água e terras degradadas. E mais de 200 das famílias dos grupos sociais já citados não foram indenizadas e moveram processos contra o CESTE (Sieber; Junior, 2016) e (Nogueira, 2019).
O decrescimento populacional em Babaçulândia pode ser atribuído à migração forçada causada pela construção da UHE – Estreito e pela desapropriação de famílias em Babaçulândia e pelos assentamentos próximos. A construção levou a uma movimentação da população local para outras áreas, como Araguaína e outros reassentamentos (Santos Estêvão, Mirindiba, Bela Vista e Baixão), já que as condições de vida na região afetada pela usina podem ter se tornado menos atrativas, motivando as famílias a buscarem novas oportunidades em locais diferentes (Carvalho; Sieben, 2019).
Babaçulandia também possui o maior Índice de Envelhecimento (IE) da Região de Influência Imediata de Araguaína (RIIA), conforme podemos observar no Gráfico 3. O IE foi calculado com base nos dados do DATASUS (2022) para idosos a partir de 60 anos.
Gráfico 3 – Índice de Envelhecimento da RIIA

Enfim, de acordo com a perspectiva marxista, as mudanças na estrutura econômica, como a construção de grandes projetos de infraestrutura, a UHE – Estreito, resultaram na expulsão de comunidades locais de suas terras e meios de subsistência, visando atender aos interesses do capital. Nesse contexto, a migração forçada das famílias de Babaçulândia para outras áreas, como Araguaína e outros reassentamentos, pode ser vista como parte de um processo amplo de expropriação e de reorganização do espaço para atender às demandas do desenvolvimento capitalista.
A busca por novas oportunidades em locais diferentes reflete a necessidade de as famílias se adaptarem às mudanças impostas pelo avanço do capitalismo, mesmo que isso signifique abandonar suas comunidades e modos de vida tradicionais.
Referências
AMORIM, F. L.; DE JESUS, A. Impactos socioambientais da construção da UHE-estreito na comunidade de Palmatuba em Babaçulândia-to. Geoambiente, n. 7, p.1-20, 2006.
CARVALHO, G. de A. P.; SIEBEN, A. Da Ilha de São José ao reassentamento coletivo Baixão em Babaçulândia (TO): efeitos da Usina Hidrelétrica de Estreito na Amazônia. Cuadernos de Geografía: Revista Colombiana de Geografía, v. 28, n. 1, p. 175-191, 2019.
DATASUS. http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvto.def. Acesso em 15 abr. 2024.
IBGE. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Mortalidade. 2022b. Disponível em:
http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/deftohtm.exe?sim/cnv/obt10br.def. Acesso em: 17 mai. 2025.
NOGUEIRA, P. R. Famílias ameaçadas de despejo por hidrelétrica se organizam no Tocantins. 2019. Disponível em: https://www.brasildefato.com.br/2019/03/07/familias-ameacadas-de-despejo-por-hidreletrica-se-organizam-no-tocantins#:~:text=O%20CESTE%20no%20ano%20de,Baix%C3%A3o%2C%20Santo%20Estevo%20e%20Mirindiba. Acesso em: 23 mai. 2025.
SIEBEN, A.; JUNIOR, J. C. A usina hidrelétrica Estreito e a Amazônia na política energética brasileira: a desterritorialização dos camponeses ribeirinhos de Palmatuba (TO). Revista de geografia agrária, v. 11, n. 22, p. 433-463, 2016.