Misleine Andrade Ferreira Peel
João de Deus Leite
Mariana Coelho Lima
24/10/2024
A configuração demográfica de um determinado local sofre variações ao longo do tempo influenciada por uma complexa interação de fatores históricos, sociais, econômicos, políticos, culturais e sociais, conforme observamos em Tavares e Neto (2020), em Alvim, Bessa e Ferreira (2019) e em Pacífico Filho, Borges e Cançado (2021). O estado do Tocantins é o mais recente a integrar a federação brasileira, estabelecido em 5 de outubro de 1988. Embora tenha demonstrado um crescimento no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), é importante observar que está localizado na Região Norte do Brasil, uma área que historicamente apresenta índices mais baixos de crescimento econômico. O estado do Tocantins, assim como outras áreas da Região Norte, encara desafios relacionados ao crescimento populacional, incluindo questões como migração interna, distribuição desigual de recursos e infraestrutura, e acesso limitado a serviços básicos. Esses desafios destacam a necessidade contínua de investimentos e de políticas públicas voltadas para o desenvolvimento socioeconômico, educacional e populacional nessas regiões.
A Região de Influência Imediata de Araguaína (RIIA) é localizada no âmbito dos limites da Amazônia Legal. De acordo com dados do IBGE de 2022, que atualizaram esses limites, a Amazônia Legal abrange cerca de 58,9% do território nacional e engloba nove estados: Acre, Amapá, Amazonas, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins (IBGE, 2022). Em 2022, a população total residente na Amazônia Legal correspondia a 14,53% do total do Brasil (Amazônia Legal, 2022).
A Região Geográfica Imediata, segundo a definição do IBGE (2022), consiste em estruturas em torno de centros urbanos próximos que satisfazem as necessidades básicas das populações locais, oferecendo serviços para o dia a dia, como compras, emprego, saúde, educação e acesso a serviços públicos. Assim, Araguaína-TO, como cidade média, destaca-se como protagonista socioeconômica, atraindo investimentos, liderando a estrutura urbana e influenciando uma ampla rede de centros locais e pequenas cidades por meio da oferta de bens e serviços especializados. Adicionalmente, a cidade média mantém conexões espaciais tanto a nível nacional quanto internacional.
Araguaína é a segunda cidade média mais importante do estado do Tocantins, com influência no norte do estado, sudeste do Pará e oeste do Maranhão, mas enfrenta desafios de infraestrutura urbana e de empreendedorismo local. Dessa forma, a RIIA supre essas necessidades cotidianas das cidades pequenas ao redor, todas situadas dentro dos limites da Amazônia Legal, isso inclui acesso a serviços e a recursos que melhoram a qualidade de vida e que promovem o desenvolvimento das áreas próximas. Essa ligação direta entre o centro urbano e os municípios vizinhos é fundamental para a dinâmica socioeconômica da região (IBGE, 2022). Apresentamos no gráfico 1 a população de Araguaína nos três últimos censos:
Gráfico 1 – População de Araguaína nos anos de 2000, 2010 e 2022.
Araguaína, como já dissemos, é uma das maiores cidades do estado e desempenha um papel importante como centro econômico, cultural e educacional da região. Está localizada a cerca de 386 Km da capital do estado, Palmas, e sua economia é impulsionada por diversos setores que incluem agricultura, pecuária, comércio e serviços. Ela abriga várias instituições de ensino superior, como três unidades acadêmicas da Universidade Federal do Norte Tocantins (UFNT), um campus do Instituto Federal do Tocantins (IFTO) e várias instituições privadas. A cidade é um importante polo educacional na região, atraindo estudantes de diferentes partes do estado e do país. No Mapa 1 está a localização geográfica de Araguaína.
Conforme já salientado, Araguaína é a segunda maior cidade do estado do Tocantins, com 171.301 pessoas residentes segundo o censo de 2022 (IBGE, 2022), ela se destaca entre outras coisas por ter um crescimento percentual maior que a média nacional, regional e estadual; apresentamos no Gráfico 2 essa relação:
Gráfico 2 – Comparação de crescimento entre Araguaína, Tocantins, Região Norte e Brasil
Fonte: os autores (2024).
A análise dos dados sugere que uma série de fatores podem influenciar o crescimento populacional de Araguaína, incluindo oportunidades econômicas, infraestrutura, políticas governamentais e migração interna. Além disso, observamos disparidades regionais e diferenças nas taxas de crescimento entre áreas urbanas e rurais. Ainda apresentamos o Gráfico 3 que mostra os dados de nascimentos e de óbitos nos últimos 12 anos em Araguaína, segundo os dados do IBGE (2020) e do DATASUS (2022).
Gráfico 3 – Nascimentos e óbitos no município de Araguaína
Fonte: adaptado pelos autores com dados do IBGE (2022) e DATASUS (2024).
Com base nas fases da Teoria da Transição Demográfica, a estabilização populacional ocorre quando as taxas de natalidade e de mortalidade se igualam, resultando em um crescimento populacional mínimo (Vasconcelos, 2012). No entanto, ao observar um crescimento populacional de 13% de 2010 a 2022 e de 33% de 2000 a 2010, é possível inferir que esse aumento não se deve à taxa de natalidade e de mortalidade, mas foi influenciado por outros fatores, como a imigração. O crescimento populacional resultante da imigração pode ser uma explicação plausível para o aumento significativo da população nos períodos mencionados.
Os imigrantes indígenas venezuelanos da etnia Warao, cubanos, colombianos e egípcios foram acolhidos no município de Araguaína. O município até ganhou o selo da plataforma MigraCidades, uma certificação nacional concedida pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) da ONU, com o intuito de reconhecer e de promover a elaboração e a administração de políticas públicas direcionadas aos imigrantes (Prefeitura de Araguaína, 2023).
Podemos correlacionar esses pontos citados anteriormente também com a Teoria da População em Marx ao considerar a mão de obra imigrante como parte integrante das relações de produção capitalistas. Em Marx, a população é analisada no âmbito do contexto das relações de produção capitalistas, em que a força de trabalho desempenha um papel fundamental na produção de mercadorias e na dinâmica econômica (Viana, 2008). No caso de Araguaína, a chegada de imigrantes representa uma nova fonte de mão de obra que é incorporada no mercado de trabalho local. A imigração, nesse contexto, pode ser vista como um fator que influencia o crescimento populacional da região, não apenas pelas taxas de natalidade e de mortalidade, mas também pela chegada de novos trabalhadores.
Além disso, temos também que a Região de Influência Imediata de Araguaína atrai a população de municípios vizinhos. Essa atração pode ser devido a oportunidades de emprego, de serviços, de infraestrutura, de qualidade de vida, entre outros fatores que tornam essa região mais atrativa para os habitantes de áreas circunvizinhas. Como resultado, as pessoas podem optar por se deslocar para essa região em busca de melhores condições de vida, trabalho ou acesso a serviços que não estão disponíveis em seus próprios municípios. Esse fenômeno é comum em áreas urbanas em crescimento ou em regiões que se destacam como polos econômicos, políticos ou culturais, exercendo uma influência significativa sobre os municípios ao seu redor, como é o caso de Araguaína.
Referências
ALVIM, A. M. M.; BESSA, K.; FERREIRA, G. L. L. Urbanização, migração e rede urbana no Tocantins: concentração de atividades político-econômicas e redefinição dos papéis dos principais centros urbanos. Boletim de Geografia, v. 37, n. 1, p. 13-31, 2 maio 2019.
AMAZÔNIA LEGAL. Perfil. 2022. Disponível em: https://amazonialegalemdados.info/assets/images/AML/logo.png. Acesso em: 04 mai. 2024.
OLIVEIRA, F. L.; DE JESUS, A. Impactos socioambientais da construção da UHE-estreito na comunidade de Palmatuba em Babaçulândia-to. Geoambiente, n. 7, p.1-20, 2006.
DATASUS. http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sinasc/cnv/nvto.def. Acesso em 15 abr. 2024.
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PACÍFICO FILHO, M.; OLIVEIRA, T. P.; CANÇADO, A. C. Migrações internas no Brasil: dos centros de formação para a pesquisa à Amazônia Legal – os professores da Universidade Federal do Tocantins. Boletim de Geografia, v. 38, n. 3, p. 1-18, 24 mar. 2021.
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PACÍFICO FILHO, M. et al. Dinâmica de contágio da COVID-19 em cidades médias da Amazônia Legal: Araguaína (TO), Imperatriz (MA) e Marabá (PA). Revista Brasileira de Gestão e Desenvolvimento Regional, [S. l.], v. 16, n. 4, 2020.
PREFEITURA DE ARAGUAÍNA. Reconhecida pela ONU, Prefeitura de Araguaína já prestou assistência para 140 imigrantes e compartilhou as boas práticas com outras cidades. 2023. Disponível em: https://www.araguaina.to.gov.br/reconhecida-pela-onu-prefeitura-de-araguaina-ja-prestou-assistencia-para-140-imigrantes-e-compartilhou-as-boas-praticas-com-outras-cidades. Acesso em: 21 mai. 2024.
SPOSITO, E. S.; JURADO DA SILVA, P. F. Cidades pequenas: perspectivas teóricas e transformações socioespaciais. Jundiaí, Pacco Editorial, 2013.
TAVARES, J. M. da S.; NETO, C. P. Aspectos do crescimento populacional: estimativas e uso de indicadores sociodemográficos. Formação (Online), [S. l.], v. 27, n. 50, 2020. DOI: 10.33081/formacao.v27i50.5928. Disponível em: https://revista.fct.unesp.br/index.php/formacao/article/view/5928. Acesso em: 3 abr. 2024.
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VIANA, N. A teoria da população em Marx. Boletim Goiano de Geografia, Goiânia, v. 26, n. 2, p. 87–102, 2008.